Lübeck, Alemanha, 1875 — Zurique, Suíça, 1955

 

Romancista, Prêmio Nobel de Literatura

 

Um dos maiores romancistas do século XX, Thomas Mann era filho de um comerciante de Lübeck e de Julia da Silva Bruhns, nascida no Brasil, que sempre teve uma influência artística importante sobre os dois filhos escritores: além de Thomas, Heinrich. Jovem, Thomas projetou-se com a saga familiar Os Buddenbrook (1901), que mereceu o Prêmio Nobel de Literatura em 1929. Opositor do nazismo, deixou a Alemanha em 1933, estabeleceu-se na Suíça e em 1938 seguiu para os Estados Unidos.

 

A relação com Stefan Zweig foi longa, frequente e desigual. Zweig o idolatrava, e Mann retribuía à sua maneira – cortês e distante. O primeiro contato teria acontecido em 1917, quando Mann, sinceramente tocado pelo poema dramático antibelicista Jeremias, escreveu ao autor qualificando-o de “o mais significativo fruto poético desta guerra”. Zweig lhe remetia todos os seus livros devidamente autografados, enquanto Mann só lhe enviou um, Lotte em Weimar, que o levou a escrever-lhe entusiasmada carta e depois uma resenha (incluída postumamente na segunda coletânea de ensaios). “Ao gênio da responsabilidade” foi uma dedicatória publicada por Zweig em junho de 1925. Parceiros em diversas empreitadas para homenagear figuras como Sigmund Freud, também estiveram juntos no conselho editorial da Editora Forum de Amsterdã, que editava as obras dos escritores de língua alemã banidos pelo nazismo.

 

O apoio e a amizade que Zweig ofereceu a Klaus Mann podem ter enciumado o pai. Donald Prater, biógrafo de ambos, nota que Mann na intimidade invejava a capacidade de trabalho de Zweig e seu sucesso como autor. Admirava seu compromisso humanista, mas não seus dotes de escritor. Prater flagrou em Mann uma persistente insinceridade quando elogiava um autor em cartas e, simultaneamente, o desancava nos diários. Foi o caso de Uma consciência contra a violência: Castélio contra Calvino (de 1936), que na intimidade considerou “desinteressante, de segunda classe como sempre”, embora numa carta a Zweig, dias depois, proclamasse que “há muito não lia um livro tão ansiosamente, agarrado pelo material e sua construção... congratulações”.

 

O suicídio de Zweig também fez parte do rol de incompreensões entre os dois escritores. Mann leu as primeiras notícias e a primeira versão da “Declaração” desprovida do alento final. Escreveu um lacônico comentário no jornal dos exilados, Aufbau, em que elogiava a humanidade e a bondade do falecido, mas via uma tragédia maior no fato de esses atributos não terem sido suficientemente fortes para permitir que aguardasse a aurora. Na intimidade, o “Mágico” acusou Zweig de covarde e egoísta, incapaz de enxergar o efeito de seu gesto sobre aqueles que esperavam escapar do inferno hitlerista. Por intermédio de Erika Mann, filha predileta de Thomas e sua companheira de militância no Emergency Rescue Commitee, Friderike tomou conhecimento dos reparos de Mann e reclamou. Mann escreveu respeitosamente a Friderike tentando eliminar algum mal-entendido. “A morte é um argumento que vence qualquer controvérsia”, concluiu. Em 1947 Mann voltou à Alemanha e em 1952, por ocasião do décimo aniversário da morte de Zweig, escreveu novo texto, dessa vez sem qualquer contraponto restritivo, louvando o grande pacifista e humanista.

 

Thomas Mann viveu na Suíça até morrer, em 1955. Deixou vasta obra, em que se destacam romances como Morte em Veneza (1912), que explora os temas da decadência e da morte, A montanha mágica (1924), que trata da desestruturação da civilização européia, e Doutor Fausto (1947), a história do músico sem caráter Adrian Leverkühn, que, como Fausto, vende a alma ao demônio para realizar sua grande obra.

 

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